Molhando as Palavras

Blog de curiosidades, opinião, crônicas e afins.

terça-feira, setembro 26, 2006

Eleições 2006

Estamos próximos de mais uma eleição presidencial e desta vez confesso que a indecisão continua sendo o meu voto. Sempre apostei no PT. Sempre fui de esquerda. Então, mal ou bem era fácil escolher. Mas e agora? Diante de tantos escândalos de corrupção, diante da omissão de Lula, diante de tanto cinismo, o que fazer? É inconcebível pensar que Lula será reeleito no primeiro turno mesmo com todas as provas contrárias à sua honestidade. Sua vitória é o mesmo que legitimar o roubo. É confessar que o brasileiro não se importa com a corrupção porque no fundo a maioria compactua com ela. Em diferentes níveis, claro, mas quem já não o fez por benefício próprio?
Tenho lido muito, me informado e confesso que pela primeira vez estou em dúvida em quem votar porque estou dando um valor enorme à minha escolha. Senão fosse por isso, seria fácil. Votaria na Heloisa Helena, no Cristovam Buarque ou qualquer outro que já não tem mais chances de ganhar. Mas será que isso é certo? Cadê então o meu direito de escolha? Cadê a democracia? Sinto-me na verdade sem opção. E com isso obrigada a dar meu voto a quem não necessariamente considero merecedor. Pensei seriamente em votar nulo e confesso que a idéia não foi totalmente descartada. Há quem diga que anular o voto é uma burrice sem tamanho. Há quem diga que é antidemocrático. Votar nulo não traz soluções, apenas o caos.
Não concordo por dois motivos. Primeiro porque se ele não fosse democrático, não seria uma opção de voto dentro do processo democrático. Ou seja, se o voto nulo existe alguma função ele tem. Segundo porque o considero a forma mais honesta de estar bem com a minha consciência. Anulando estou manifestando a minha descrença em qualquer um deles. O que de fato está acontecendo. Por outro lado, desconheço seus verdadeiros efeitos. Será que chegaríamos a algum lugar? O que mudaria? Os políticos são esses, não tem jeito. O que nos resta é escolher o menos pior.
É por essas e outras que defendo a não obrigatoriedade do voto. Acho este o grande paradoxo do processo democrático brasileiro, já que votar por votar é minimizar a escolha. É desvalorizar justamente o que considera-se mais valioso. Só deveria ir às urnas aquele que realmente tem convicção do que quer. Desta forma, a democracia estaria sendo exercida na sua totalidade. E com certeza, eliminaríamos grande parte dos votos “comprados” por assistencialismo e promessas de vida melhor, e etc. Assim seria o voto consciente.
Por isso, lamento profundamente não ter mais alguém que represente dignamente meus ideais. Sinto-me órfã e ao mesmo tempo acuada. Sem saída, pois me vejo obrigada a votar no Alckmin só pra ter a chance de tirar o Lula do poder. Pelo menos essa certeza eu tenho. Não serei conivente com um partido que tem atestado de ladrão. Muito menos com um presidente cego, surdo, e cínico, que nada vê, nada sabe, e nada faz. Pelo bem do Brasil e de todos nós.


quarta-feira, setembro 20, 2006

Eu me amo

“É impossível ser feliz sozinho”, diz Tom Jobim em sua música "Wave". Discordo. Aliás plenamente. Meu lema de vida é o famoso provérbio “antes só do que mal acompanhado”. Prefiro muito mais a liberdade e a mim mesma a estar com alguém apenas por conveniência. Não há carência que me faça refém do comodismo. Para isso é que existem amigos, livros, cinema, teatro, praia, enfim, o mundo. Na verdade, estar solteiro ou casado é muito mais que um estado civil. É um estado de espírito.
Tem gente que passa a vida inteira acompanhado, mas no fundo comporta-se como um verdadeiro garanhão sem dono e sem compromisso. Outros têm sempre alguém ao lado, mas vivem mergulhados na solidão. Tem gente solteira por aí que está com o coração mais fechado do que nunca sem chances de relacionamento. Tem também aqueles que estão solteiros apenas por uma questão de circunstância. Aproveitam por um tempo a liberdade e logo depois voltam pro ninho. E há aqueles que juram, acreditam estar disponíveis, mas no fundo o que preferem é estar só. Enfim, os exemplos são muitos. E o que eles provam é que não importa a companhia. E sim o que o coração sente.
De fato o amor é cercado de mistérios que jamais serão desvendados. Solteiro ou casado estamos sempre sujeitos ao fracasso. Os primeiros têm a clara convicção que a culpa é deles. Se não conseguem encontrar um par é porque devem estar fazendo algo de errado. O interessante é que os do segundo grupo também têm a mesma opinião. Mas pela razão contrária: a de não conseguir levar um relacionamento adiante. Isto é, no lugar da esperança vem a frustração.
Na minha opinião muito pior que estar sozinho é amar incondicionalmente. O amor cego e em excesso tende a transformar-se em dependência. Pior, à anulação do próprio eu. O outro está sempre em primeiro lugar. Ao invés da troca, submissão. E quando se dá conta, quando o amor acaba, não têm amigos, identidade e opinião. Olha pro lado e não tem nada. Todos seguiram. Todos passaram porque deixou.
Por isso, se você faz parte do grupo dos solitários a procura, não se preocupe. Nem tampouco sinta-se diminuído porque não tem um relacionamento estável. Lembre-se desses outros que nem se arriscam a viver sozinhos. Ou esses que perdem a auto-estima e projetam toda a felicidade no parceiro. É muito possível sim viver feliz sozinho. Aliás, este é o grande desafio. Pois a felicidade a dois só é possível se cada um estiver satisfeito e pleno, antes de tudo, consigo mesmo.

quinta-feira, setembro 14, 2006

O homem e eu

Mais um dia de trabalho no Centro da cidade. Lá está o homem encostado no muro, sentado, olhando a esmo a vida passar. Sua imagem me choca sempre que atravesso o quarteirão. Dia após dia, lá está o homem estendido no chão. Ele é gordo. A fartura do peso até inspiraria saúde se o mau cheiro não lhe tirasse qualquer sinal de civilidade. Ele fede. Passo com os olhos baixos. Ele me olha. Sinto que ele me olha. E eu penso “por que esse homem, ainda tão jovem, está aí e eu aqui? Por que ele mora na rua e eu numa casa? Por que eu pude estudar e ele não? Por que eu posso ter um emprego e ele não?”. Eu sei o porquê. Todos nós sabemos. Nada mais me vem à cabeça senão injustiça.
Apesar da imagem de abandono, o homem tem doçura nos olhos. Não pede esmola, não conversa com ninguém. Não incomoda. Está sempre só, calado e entregue. Quase não tem roupa. O peito nu exibe a pele negra coberta por uma crosta de sujeira ainda mais negra que a pele. Ele anda descalço. Seus pés são grossos. Ele parece morto. Mas não, está vivo. Ele é alguém. Alguém como eu, como você. Um ser humano. Mas que por crueldade do destino cresceu na rua aprendendo a perder a esperança de que um dia isso vai mudar.

quarta-feira, setembro 13, 2006

O preço da indiferença

Hoje a miséria bateu na janela do meu carro. Hoje senti o preço da minha indiferença. Hoje percebi a raiva nas mãos de quem se sente ignorado pelo poder. Foram dois socos em punho para me chamar atenção. Numa cadeira de rodas, o mendigo parecia um gigante. “Me dá um dinheiro aí”, pediu com um gesto. Fiz que não com a cabeça. Ele me pediu mais uma vez. Repeti o não. Virei a cara para ver se o sinal abrira. De rabo de olho percebi que ele ia embora, mas hesitou. Continuou parado ao lado do meu carro. Voltei a olhá-lo. Dessa vez, gesticulando, ele dizia que não queria dinheiro. Queria que eu abrisse a janela e o ouvisse. Não o atendi. Neste momento seu semblante já não era o de quem pede. Sua atitude era ameaçadora.
Foi quando ouvi um grande soco no meu vidro. O olhei assustada e ele continuou a gesticular como quem diz “abre essa janela agora sua rica metida. Me dá seu dinheiro. Esse que você tem e eu não tenho. Esse que você esconde sentada nesse carro ouvindo seu walkman”. De repente, outro soco ainda mais forte. Achei que o vidro fosse estourar tamanha era sua agressividade. Minha única reação foi buzinar pra ver se o assustava. Ele não se moveu. Com o rosto colado no meu vidro me ameaçava. Continuei buzinando. Felizmente o carro da frente andou. O homem da cadeira de rodas ficou pra trás enquanto meu corpo todo tremia por dentro. Assustada, errei o caminho. A sorte é que já estava próxima do trabalho. Quando estacionei, ainda sob o efeito do susto, pensei o quão cara pode ser nossa indiferença. Talvez pudesse ter me machucado. Talvez ele tivesse me assaltado só pelo fato de não tê-lo atendido. Talvez eu não estivesse mais aqui pra contar. E talvez ele só queria mesmo um pouco de atenção. Mas o que fazer diante desta realidade? Nos proteger ou ser solidário? Infelizmente senti medo. E percebi que a cada dia este temor tem me roubado a piedade.

sexta-feira, setembro 08, 2006

Como nossos pais....

Assim como todos os cariocas, também fiquei muito chocada com o acidente brutal que tirou a vida de cinco adolescentes semana passada. Não faz muito tempo, também era uma, e como todos, me aventurei muito por aí. Mas fiquei mais chocada ainda com a insensibilidade da juíza Ivone Caetano, que após uma perda irreparável para esses pais, ainda vem a público dizer que a culpa é deles. Não sei quantos anos a juíza Ivone tem. Se ela tem filhos. Parece-me que não, porque se tivesse não teria coragem de dizer isso publicamente. Primeiro porque ela não sabe sobre quem está falando. Não conhece a família dessas pessoas, o tipo de educação que esses jovens recebiam, ou seja, nada. Segundo, porque é preciso ter o mínimo de respeito ao luto desses pais que acabaram de perder seus filhos e que com certeza já carregam a culpa de não estarem lá para salvá-los. E terceiro porque estamos falando de pessoas, não de animais domésticos que podem ficar trancafiados em casa (o que também não resolve nada).
Fatalidades acontecem todos os dias. Imprudências também. E não só cometidas por adolescentes. Basta ler os jornais para se constatar isso. Mas o que de fato interessa é que nem sempre a causa é a negligência de quem educa. Os pais têm sim o dever de ensinar, alertar e punir se for o caso. Mas não podem proibir que seus filhos vivam e cresçam para o mundo. Dentro de casa, os pais são as autoridades. E fora dela é a lei. É impossível manter um adolescente sobre total controle. Os jovens são assim. Transgredir, superar limites, não temer o risco significa existir. É uma fase da vida em que o lema é experimentar. Por mais que a vigilância seja severa, pode ter certeza que eles arrumarão algum jeito de fazer. E se fazem escondidos é justamente porque não têm a aprovação dos pais.
E não adianta achar que dentro de casa eles estão seguros. Até mesmo diante dos seus olhos os adolescentes são capazes de cometer atos reprováveis. Basta ver o problema de assédio sexual na internet. Basta ver jovens viciados em droga que dentro de casa se comportam como anjos e fora dela se arriscam diariamente para sustentar o vício. Quantos jovens dizem que passam a tarde na escola e matam aula? E você, não vai acreditar na palavra de seu filho se ele diz que vai dormir na casa de um amigo?
Ninguém educa um filho sozinho. Para isso servem as leis. Para isso servem as escolas. Fora de casa o responsável pelo cidadão é também o governo. Ele tem que garantir que o jovem menor de idade não vai beber, não vai dirigir alcoolizado, não vai entrar em boates. Se a lei fosse realmente cumprida, os pais teriam certeza que seus filhos podem sair à noite, se divertir, sem correr tantos riscos. O dever de proibir é da fiscalização.A responsabilidade quando um adolescente entra numa boate e consome bebida alcóolica não é do pai. É do estabelecimento, que por sua vez só ignora a regra pois sabe que a impunidade existe. É na falta de rigor do poder público que este tipo de crime ocorre.E a única forma de mudar é fazer com que os jovens, as casas noturnas e os bares tenham medo da lei. Tenham a certeza de que se cometem delitos serão punidos.
Trancar adolescentes dentro de casa como se fossem eternas crianças não resolve. É também nos erros que aprendemos a acertar. É na experiência que crescemos. E um jovem que fique vendo a vida passar sem correr riscos, superprotegido, certamente será uma pessoa reprimida, insegura e infeliz, pois se tornará um adulto sem iniciativa e sem histórias pra contar.
Deixamos de tentar achar culpados para essa tragédia. Que isto sirva de alerta. E que todos os jovens aprendam com ela, porque não existe dor maior no mundo para um pai do que ver um filho perder a vida tão cedo.

segunda-feira, setembro 04, 2006

Ou isto ou aquilo

Após um período de turbulências estou de volta. E pra começar, resolvi tirar do rascunho o texto sobre as dúvidas. Para mim, elas são como portas abertas nos indicando caminhos diversos e impossíveis de saber onde irão dar. Estão ali, com um ponto de interrogação cravado e piscando pedindo para que tomemos uma decisão. O problema é que às vezes elas são tantas que tudo vira uma grande bagunça. Os pensamentos se confundem, razão e coração não se entendem, e nada mais parece fazer sentido.
A única certeza é que a vida seria bem mais fácil se as escolhas fossem óbvias ou se não tivéssemos que fazê-las. Só que Deus quando criou o homem tratou de dar-lhe a consciência. Essa maldita e maravilhosa dádiva de raciocinar, questionar, criar e, como não dizer, censurar. Uma espécie de provação divina para que o homem mereça habitar este mundo a princípio concebido como paraíso. Resumindo, a razão é a causa de todos os nossos problemas. Ou melhor, dilemas. Se fôssemos de qualquer outra espécie diferente da Homo sapiens a vida seguiria naturalmente, por si só, sem tantos poréns e porquês.
Sendo nós, no entanto, seres complexos, nada é tão simples assim. Ir para um lado pode significar nunca mais conseguir chegar ao outro. E ir para o outro pode até ser melhor no futuro, mas agora parece totalmente descartável. E então, como decidir? Há quem diga que o ideal é seguir a voz do coração. Ou será da razão? Que dúvida. É tão difícil saber. Por isso escolher às vezes é tão doloroso.
Mas a vida é feita de escolhas e querendo ou não temos que lidar com elas. Diariamente, desde as mais simples as mais complexas, são as escolhas que escrevem nossa história. E enquanto uns gostam de arriscar, outros preferem ponderar. O grau de ousadia é o diferencial. Há os que se jogam de cabeça sem temer o tamanho do risco. Há os que temem, mas que mesmo assim arriscam com medo de se arrepender por não tentar. E finalmente há os que não arriscam de jeito nenhum, pois apostar no incerto é se atirar no precipício sem chances de se recuperar. Seja como for, a decisão deve ser tomada. E assim vamos construindo nossos destinos e nossas sinas.
O mais intrigante é que nunca teremos certeza do que seria mais correto. Mesmo que nos demos mal depois, ninguém pode garantir que o melhor teria sido o outro. Não dá pra saber. São muitos "se" no meio do caminho. Condição que transforma o aparentemente certo em mera suposição. Os erros nos levam aos acertos. E com certeza ninguém viverá sem fazer uma escolha errada. Neste caso, cheguei à conclusão que o melhor é aceitar que certo e errado serão sempre faces da mesma moeda. E que pra existir é preciso optar. Não tem como fugir do jogo. É pegar ou largar. É viver ou deixar de viver.
E você, qual vai querer?

sexta-feira, setembro 01, 2006

Freud explica

O amanhã chegou e hoje nada mudou. Minha indecisão deve ser tanta que se transformou em febre, dor no corpo e aquela moleza que geralmente temos principalmente nos dias frios e chuvosos. O desejo de sumir continua. Mas como a febre ainda não chegou ao delírio, a minha cama quentinha já está de bom tamanho.

Estimo melhoras para meu corpo/mente. Que coração e razão enfim se entendam e voltem a dialogar civilizadamente. Quem sabe o fim de semana ajude. Quem sabe...