Molhando as Palavras

Blog de curiosidades, opinião, crônicas e afins.

terça-feira, maio 08, 2007

Saudades

Estava com saudades do Molhando as Palavras. Depois que a Filosofia de Botequim nasceu não tive mais tempo de vir aqui. Para quem ainda não sabe este é o nome da minha nova coluna no JB Online, dentro da Revista Vizoo, que está com um link lá na parte de cultura. Tem ensaios de moda, bastidores, uma coluna sobre as novas obras-primas da tecnologia, lançamentos, enfim, tem muita coisa legal.Está sendo ótimo ter este novo espaço, mas minha meta é conseguir que o Molhando as Palavras também continue existindo. Mas, sempre fica aquele medo de não ter idéias. A grande crise do escritor: falta de inspiração. Graças a Deus ela não tem me faltado e o meu olhar está cada vez mais aguçado à procura de asssuntos. A verdade é que esta fase de abstinência ao Molhando as Palavras tem me causado uma certa frustração. E, por isso, resolvi colocar um novo texto que seria usado na coluna, aqui.E o amanhã a gente deixa pra amanhã.
Inté

O homem e a máquina

Se a internet trouxe muitas facilidades para o dia a dia da comunicação ela também gerou alguns infortúnios que a sociedade ainda não sabe como lidar. Os exemplos são muitos: casos de pedofilia, golpes bancários, problemas com direito autoral, conspirações para planos de assassinato e até contato entre os presos via rede. Mas, existe um outro dano um pouco menos visível conseqüente desta comunicação virtual: a mudança nas relações humanas e no comportamento social. Por ser tão democrática e encurtar distâncias em questões de segundos, a internet tornou-se um mundo paralelo, onde se vale tudo e qualquer um pode jogar. Na rede, não há RG nem CPF. Você pode ser quem quiser e passar a vida à sombra de seus personagens.
Atualmente, é possível fazer quase tudo pela rede e às vezes me pergunto como o mundo funcionava antes de seu invento. Lembro-me das pesquisas de colégio feitas naquelas enormes enciclopédias, com linguajar quase indecifrável e que nem sempre encontrava tudo o que queria. Hoje, com uma única palavra no Google, podemos ter a ficha completa sobre qualquer assunto, mandar um copy/paste e o trabalho está completo. Lembro-me também do tempo em que escrevia cartas e cartas à mão para mandar notícias pra família durante meu ano na Austrália. Era o início da era virtual e foi quando fiz o meu primeiro e-mail. Desde então, nunca mais escrevi cartas.
Diante da tela do computador quebraram-se barreiras e a velocidade da informação nos bombardeou com milhares de novidades por minuto. Mas, esta facilidade tão grande promovida pela navegação vem transformando em muito os hábitos sociais. As pessoas num mesmo recinto se comunicam por chats. O diálogo passou a ser pelo teclado. As relações se limitaram às telas. Ao invés da conversa ao telefone, parabenizamos amigos por e-mail, resolvemos relações amorosas por messengers, e a conversa ao ouvido tem se tornado quase extinta. Eu mesma, na minha profissão de assessora, já fiz jornalistas amigos apenas pelas trocas do correio eletrônico. Nunca vi seus rostos, nunca escutei suas vozes, mas trocamos diariamente informações como se troca com alguém da família. E quando menos se espera a intimidade se fez ali, por um nome de remetente e um destinatário.
Confesso que adoro a tecnologia e a praticidade que a internet fornece, mas fico extremamente assustada quando vejo jogos como o Second Life fazendo tanto sucesso. Para quem não ouviu falar trata-se de um jogo de relacionamentos “interpessoais”, em que você adquire uma vida real no mundo virtual, com trabalho, renda, casa, etc. O jogo possui uma moeda própria, o Linden dollar (L$), que pode ser convertida em dólares verdadeiros, respeitando a sua cotação no dia corrente (a cotação atual é de aproximadamente 1 Dollar para 300 Linden Dollars). As possibilidades de enriquecimento são variadas. Pode-se construir objetos, comprar e vender terras, construir imóveis, desenvolver assessórios para avatares (este é o nome dado ao homem dentro do jogo), trabalhar para outros avatares e por aí vai.
Como o próprio nome do jogo sugere, entrar no Second Life é como viver uma outra vida, porém virtualmente. Desta forma, o sucesso obtido na sua carreira virtual influi diretamente na vida real. E assim, as pessoas vão se aprisionando cada vez mais neste mundo “fechado”, frio e ilusório. Um mundo em que os sonhos tornam-se facilmente reais, dando a falsa a impressão de que isso te realiza na mesma proporção. A sensação que tenho é que o homem criou as máquinas para lhe servir, mas agora quem as serve somos nós.