Molhando as Palavras

Blog de curiosidades, opinião, crônicas e afins.

quinta-feira, agosto 09, 2007

Re-começar

Após 75 dias de greve estou de volta ao Centro da Cidade. Não posso dizer que voltar ao trabalho seja excitante. Tudo está no mesmo lugar, as mesmas pessoas, o mesmo teclado de computador. O telefone toca com a mesma insistência e você percebe como um minuto de rotina é suficiente para que dois meses de férias pareçam nunca ter existido. Recomeçar.... Esta é a palavra.

Re-começar é sempre difícil. Exige muita força de vontade. A vontade, na verdade, é de dar ré. E pra começar, só pegando no tranco. Principalmente diante da pilha de jornal que se formou durante minha ausência. Notícias que irão para o lixo. Textos, matérias, apurações que passada 24 horas são tão descartáveis como um guardanapo de papel. Em pensar que ganho a vida fazendo isso. Promovendo motivos para os jornalistas terem o que falar. Promovendo fatos que em pouco tempo estarão limpando as fezes do seu cachorro ou enrolando os entulhos na caixa de mudanças.

Nunca havia parado pra pensar como a obra do jornalista se esvai tão rapidamente. Se não fosse pela memória do Google e da Biblioteca Nacional nada do que publicamos estaria vivo. Seriam palavras ao vento. Tão esquecidas quanto às promessas dos governantes. No entanto, a máquina não pára. Está sempre a girar novos fatos, novas manchetes. Está tudo ali, naquele pedaço de papel. A história de um povo, o futuro, o passado e o presente de uma nação. De dia nas mãos do cidadão. À noite em qualquer lugar.

Hoje, por acaso, esqueci de pegar os jornais. Faltou o costume. E agora, vejo que a mídia anda extremamente desinteressante. Nada de novo. Sempre os mesmos rostos a estampar as capas. Parece até falta de assunto. Mas, não. È falta de ousadia. Cansei... Quero ver algum jogo do PAN. Desde que acabou, sinto que está faltando alguma coisa na cidade, no meu dia. O tempo demora a passar. Mas o amanhã já está vindo. De novo, de novo e de novo. Junto com o pão e a primeira edição do meu jornal.

quinta-feira, julho 26, 2007

Cronistas

Este ano estreei na Flip. A ocasião era especial: fui selecionada para participar da oficina de crônicas ministrada por Arthur Dapieve e Joaquim Ferreira dos Santos. Foi um belo encontro. A Flip é realmente um acontecimento. Paraty é uma cidade muito charmosa e literatura (para mim) é ainda mais. Portanto os ingredientes estavam ao gosto do bom paladar. Dois mestres, um cenário histórico e assunto para o resto do ano. Não se fala em outra coisa na cidade a não ser em livros, palestras, grandes atores e grandes descobertas. E eu, que de grande ainda não tenho nada, me perdi na imensidão bucólica de suas ruelas, ocupadas por tantos gênios e exemplos de sabedoria.

Curiosamente, as aulas com Arthur e Joaquim foram como um café à beira-mar. Por trás de todo o respaldo de seus nomes haviam ali dois escritores, jornalistas, meros mortais como nós. Veteranos que sofrem como qualquer principiante diante de uma tela em branco no computador. Autores invertebrados que se contorcem diante do tempo para cumprir o dever da escrita. Homens. Simples trabalhadores da escrita, dedicados e experientes na arte de tornar a falta de assunto em assunto da semana. Ali, senti-me cronista, contista, jornalista, mulher, menina. Um semelhante. Com os mesmos sentimentos, diferentes obsessões (porém sempre obsessões) em prol de um mesmo objetivo: escrever.

Éramos 30. Tornamo-nos um só. Uma turma, dois amigos, muitas idéias, talentos para serem explorados. Todos ali tinham algo pra falar e acrescentar. Cada um carregava consigo suas experiências e um desejo tremendo de acreditar que o que escrevemos vale a pena. É bom. Podemos continuar. Devemos continuar. Às vezes é muito difícil acreditarmos em nós mesmos. O escritor precisa do leitor. Apesar de ser uma experiência intrinsecamente pessoal, não escrevemos para guardar segredos. Escrevemos para o mundo. E só acreditamos na obra depois que alguém a leu.

O que mais me intriga na escrita é a oferta de possibilidades. Não existe uma receita de bolo. Existe nexo, coerência. Regras que podem ser quebradas e devem ser se assim quisermos. Cada um tem seu estilo e todos podem ser bons na mesma medida. Arthur e Joaquim não nos ensinaram a escrever crônicas. Ensinaram-nos a ser cronistas. Como aguçar o olhar. A matéria prima do cronista está em todas as partes. À nossa volta. Mas é preciso sensibilidade para enxergar o mínimo dentro do todo. Um toque, um movimento, simples observações transformadas em reflexão e pensamento. Nem sempre a inspiração está a nosso favor. Na maioria das vezes ela foge como uma cobra escorregadia. E diante do pânico de não ter o que falar ficamos órfãos de palavras. Lutando contra o tempo em busca de um único motivo que nos mantenha criando. E que felizmente, querendo ou não, sempre aparece.


quinta-feira, junho 21, 2007

A ERA BIG BROTHER: O SHOW DA VIDA

O mundo virou um grande Big Brother. Por onde quer que ande, esteja onde estiver, o olho do grande ‘Deus’ está a nos espreitar. Somos todos personagens deste universo vigiado, cercado de câmeras e flashes por todos os lados. Um passo, uma foto. Um tropeço, um vídeo no Youtube. Estamos sendo monitorados diariamente por este olho onipresente que nos governa. Público e privado não são mais opostos. São complementos. Não se pode mais guardar segredos. Hoje vivemos em cima do palco. Fazemos parte de um grande elenco: o do show da vida.
A qualquer momento sua pacata e ordinária rotina pode virar programa de TV. Aos olhos ‘Dele’ somos todos protagonistas potenciais de uma bela história. Pode ser de amor, de superação, de fraqueza ou simples banalidades. Tanto faz. Com um bom roteiro sua vida passa do banal ao ‘extra-ordinário’. É o mundo mágico do entretenimento que transforma simples acontecimentos em manchetes de jornal e qualquer mortal em nova celebridade. A novela (real) do mundo moderno não precisa mais de mocinho e bandido. O maniqueísmo está fora de moda. Atual é ser quem você é, mesmo que não seja. Como diz o slogan ‘imagem é tudo’.
Na tela, a “Mulher de 30 à procura” vira protagonista de novelão. Durante uma semana passa a ter seus passos seguidos por uma câmera (ou mais) dentro de sua casa, no bar que freqüenta, na boate, no almoço com as amigas, para contar ao mundo suas dificuldades de encontrar um parceiro (e eu com isso?). Jovens empreendedores têm suas habilidades testadas para se tornar o grande sócio de um bem sucedido empresário. E “O Aprendiz” vitorioso sai da TV com a certeza de que esta foi a maior oportunidade que a vida lhe deu. Dane-se o nascimento da filha! Dane-se o pai doente, à beira da morte! O que importa é o futuro. E a quantia que irá resguardar este futuro.
A qualquer momento a Supernanny pode entrar na sua casa e dizer que você não é um bom pai. E durante duas semanas vai te ensinar as regras para educar uma criança como em todos os livros de auto-ajuda (por onde anda a tal intuição materna?). A mulher de 40 ou a menina de 15 insatisfeitas com seus corpos não se importam em falar sobre suas inseguranças e frustrações. Passam a ser filmadas diariamente mostrando para quem quiser ver o antes e depois das cirurgias plásticas que resolveram fazer. E.entre um depoimento e outro, três pessoas, no auge de suas sabedorias, comentam sobre as atitudes e declarações das pacientes, geralmente caracterizadas pela baixa auto-estima ou pela superficialidade (imagina-se que o mínimo elas ganharam a cirurgia de graça). Sem dúvida os resultados são benéficos (a família sai com o filho nos eixos, o jovem com um bom emprego, e as mulheres com a plástica feita), mas será que o fim justifica os meios? Afinal, quanto vale a sua privacidade?

Neste mundo do ‘Grande Irmão’ qualquer segredo vale ouro. Os olhos estão atentos a qualquer ação, principalmente aos erros. Os paparazzis se multiplicam nas portas dos restaurantes à espera do beijo. Surrupiam informações, pagam pela violação e são capazes de perder a vida vivendo a vida dos outros. Enquanto isso, os que observam gostam do que vêem. São voyeurs atentos, vorazes, capazes de saber mais do que acontece com o ator da novela do que com sua própria família. O mágico mundo do Big Brother desviou nossos olhares. Ensina-nos a olhar o outro ao invés de olhar para si. Com isso também desaprendemos a encarar a vida como ela é: sem direção, roteiro ou edição. Sendo descaradamente ludibriados por esta falsa realidade que nos força a esquecer quem somos para imaginar ser alguém que nunca poderemos ser (a não ser quem realmente somos!).

terça-feira, maio 08, 2007

Saudades

Estava com saudades do Molhando as Palavras. Depois que a Filosofia de Botequim nasceu não tive mais tempo de vir aqui. Para quem ainda não sabe este é o nome da minha nova coluna no JB Online, dentro da Revista Vizoo, que está com um link lá na parte de cultura. Tem ensaios de moda, bastidores, uma coluna sobre as novas obras-primas da tecnologia, lançamentos, enfim, tem muita coisa legal.Está sendo ótimo ter este novo espaço, mas minha meta é conseguir que o Molhando as Palavras também continue existindo. Mas, sempre fica aquele medo de não ter idéias. A grande crise do escritor: falta de inspiração. Graças a Deus ela não tem me faltado e o meu olhar está cada vez mais aguçado à procura de asssuntos. A verdade é que esta fase de abstinência ao Molhando as Palavras tem me causado uma certa frustração. E, por isso, resolvi colocar um novo texto que seria usado na coluna, aqui.E o amanhã a gente deixa pra amanhã.
Inté

O homem e a máquina

Se a internet trouxe muitas facilidades para o dia a dia da comunicação ela também gerou alguns infortúnios que a sociedade ainda não sabe como lidar. Os exemplos são muitos: casos de pedofilia, golpes bancários, problemas com direito autoral, conspirações para planos de assassinato e até contato entre os presos via rede. Mas, existe um outro dano um pouco menos visível conseqüente desta comunicação virtual: a mudança nas relações humanas e no comportamento social. Por ser tão democrática e encurtar distâncias em questões de segundos, a internet tornou-se um mundo paralelo, onde se vale tudo e qualquer um pode jogar. Na rede, não há RG nem CPF. Você pode ser quem quiser e passar a vida à sombra de seus personagens.
Atualmente, é possível fazer quase tudo pela rede e às vezes me pergunto como o mundo funcionava antes de seu invento. Lembro-me das pesquisas de colégio feitas naquelas enormes enciclopédias, com linguajar quase indecifrável e que nem sempre encontrava tudo o que queria. Hoje, com uma única palavra no Google, podemos ter a ficha completa sobre qualquer assunto, mandar um copy/paste e o trabalho está completo. Lembro-me também do tempo em que escrevia cartas e cartas à mão para mandar notícias pra família durante meu ano na Austrália. Era o início da era virtual e foi quando fiz o meu primeiro e-mail. Desde então, nunca mais escrevi cartas.
Diante da tela do computador quebraram-se barreiras e a velocidade da informação nos bombardeou com milhares de novidades por minuto. Mas, esta facilidade tão grande promovida pela navegação vem transformando em muito os hábitos sociais. As pessoas num mesmo recinto se comunicam por chats. O diálogo passou a ser pelo teclado. As relações se limitaram às telas. Ao invés da conversa ao telefone, parabenizamos amigos por e-mail, resolvemos relações amorosas por messengers, e a conversa ao ouvido tem se tornado quase extinta. Eu mesma, na minha profissão de assessora, já fiz jornalistas amigos apenas pelas trocas do correio eletrônico. Nunca vi seus rostos, nunca escutei suas vozes, mas trocamos diariamente informações como se troca com alguém da família. E quando menos se espera a intimidade se fez ali, por um nome de remetente e um destinatário.
Confesso que adoro a tecnologia e a praticidade que a internet fornece, mas fico extremamente assustada quando vejo jogos como o Second Life fazendo tanto sucesso. Para quem não ouviu falar trata-se de um jogo de relacionamentos “interpessoais”, em que você adquire uma vida real no mundo virtual, com trabalho, renda, casa, etc. O jogo possui uma moeda própria, o Linden dollar (L$), que pode ser convertida em dólares verdadeiros, respeitando a sua cotação no dia corrente (a cotação atual é de aproximadamente 1 Dollar para 300 Linden Dollars). As possibilidades de enriquecimento são variadas. Pode-se construir objetos, comprar e vender terras, construir imóveis, desenvolver assessórios para avatares (este é o nome dado ao homem dentro do jogo), trabalhar para outros avatares e por aí vai.
Como o próprio nome do jogo sugere, entrar no Second Life é como viver uma outra vida, porém virtualmente. Desta forma, o sucesso obtido na sua carreira virtual influi diretamente na vida real. E assim, as pessoas vão se aprisionando cada vez mais neste mundo “fechado”, frio e ilusório. Um mundo em que os sonhos tornam-se facilmente reais, dando a falsa a impressão de que isso te realiza na mesma proporção. A sensação que tenho é que o homem criou as máquinas para lhe servir, mas agora quem as serve somos nós.


segunda-feira, março 26, 2007

A alma imoral

Recentemente, escrevi um texto sobre a natureza humana questionando se nascemos maus ou bons. Em um dos comentários surgiu uma nova alternativa. Na verdade, não nasceríamos nem um nem outro. Nasceríamos amorais. Mas, depois de assistir a peça “Alma Imoral” cheguei à conclusão que os homens nascem e são pelo resto da vida as duas coisas: bons e maus, corretos e incorretos, puros e pecadores. E, ao contrário do que acreditava, não são os prazeres do corpo que nos corrompe, mas os desejos da alma. É ela que nos impulsiona para a vida enquanto o corpo tenta defender-se de todas as maneiras por questão de sobrevivência.
O texto diz “Um homem só é homem quando se sabe homem. Um homem que não se sabe homem é macaco, cavalo, cobra”. Isto é, a consciência nos faz humanos. E é ela que luta constantemente contra a imoralidade da alma. Somos pecadores por natureza. A história de Adão e Eva já nos diz. Fomos expulsos do paraíso porque sucumbimos aos encantos da serpente. E foi exatamente neste momento que o homem se tornou humano. Quando ele toma consciência dos seus desejos e perversões. Quando ele desobedece às leis e cria uma nova verdade.
A partir de então, certo e errado passam a ser faces da mesma moeda, que podem convergir num mesmo objetivo. Muitas vezes o que consideramos conscientemente correto pode tornar-se um erro fatal para a alma. É preciso olhar com coragem para si e descobrir que verdade se esconde por trás do que nos é imposto. Indagar-se: é preferível seguir as regras para não tornar-se publicamente um traidor ou desacatar em prol de uma busca íntima e pessoal? A alma é traidora por natureza. Não somos traidores porque o corpo material o quer.
Quando um homem casado deseja uma outra mulher (e vice-versa) ele é um traidor. Mas isso não o torna um pecador. O torna homem. Fomos criados com a simples função de nos reproduzir e é sob o mandamento "multiplicai-vos" que seguimos no mundo. A monogamia é possível, mas para isso este acordo entre homem e mulher deve ser refeito constantemente. É um contrato que requer mudanças, pois estamos sempre em busca do novo. Ao contrário, viverá eternamente sob a luz da hipocrisia.
O maior traidor não é aquele que trai o outro. É o que trai a si mesmo. É aquele que vive em nome da tradição quando o futuro pede pela traição. Lançar-se ao desconhecido, aventurar-se em nossos conflitos, aceitá-los com honestidade é mais correto do que viver à sombra do cinismo por pura convenção moral. Seguir as regras pode parecer coerente, mas desafiá-las pode ser o caminho mais leal para a verdadeira felicidade.

segunda-feira, março 12, 2007

Dia Internacional da mulher

Semana passada foi comemorado o Dia Internacional da Mulher. E como sou uma delas, não poderia deixar de falar sobre algumas de suas conquistas. Mal ou bem, os homens não tiveram tanto pelo que lutar. Já nasceram com todos os seus direitos estabelecidos: o do trabalho, do voto, da liberdade sexual, etc. Nós, não. Foi preciso muita luta e mudanças constitucionais para que nossos direitos fossem resguardados legitimamente. Um deles, o voto, completa 75 anos agora. Até 1932, aos olhos da lei, a mulher não era cidadã. E até hoje ainda sofremos preconceito. Apesar do tempo que se passou a batalha continua e se pararmos pra analisar o avanço da participação feminina na esfera pública pode ser que não tenhamos tanto o que comemorar.
A idéia do sexo frágil, incapaz de realizar atividades que exijam raciocínio e habilidade, já não é preponderante, mas, ainda hoje, há quem resista receber ordens de uma mulher. A cultura nos acostumou a enxergar o feminino como algo inferior no mundo do trabalho, com exceção das tarefas domésticas, claro. Os números comprovam a inferiodade feminina. Segundo matéria publicada na Folha de São Paulo 70% das pessoas mais pobres do mundo são mulheres. Nós produzimos metade dos alimentos, mas menos de 2% da classe feminina são proprietárias de terra. As mulheres respondem por 2/3 das horas trabalhadas, mas recebem apenas 10% da renda. Entre 1996 e 2006 a taxa de desemprego feminino oscilou de 6,1% para 6,6%, o que significa um aumento de 1,5 milhão de desempregadas mundialmente. Um estudo concluiu que as mulheres ganham no máximo 90% do salário dos seus equivalentes masculinos em determinados setores. Em profissões de alto nível, o salário feminino corresponde a 88,8% do masculino. Para completar o quadro, 2/3 dos 800 milhões de adultos analfabetos são mulheres.
O preconceito e a dificuldade do sexo feminino de garantir seus direitos também se reflete na política. A representação feminina nas câmaras e no senado é muito aquém do esperado e atualmente há um medo real de que em pouco tempo não haja qualquer representante feminina no Congresso. Por lei os partidos são obrigados a reservar uma cota de 30% para candidatas. Mesmo assim são poucos os que cumprem, sem qualquer tipo de punição pela falta.
A importância de se ter mulheres no poder é a garantia de que teremos alguém olhando por nossas causas. Direito à creches e pré-escola, licença maternidade, direito ao divórcio, entre outros, foram conquistas que não caíram do céu. Pelo contrário. Foram adquiridas graças à representação feminina no governo. Questões até hoje debatidas como a liberação do aborto, projeto de lei da Jandira Feghali, campanhas contra a violência doméstica, de Roseana Sarney, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis considerada urgente pela deputada Perpetua Almeida, só estão em pauta porque existem mulheres lá para lutar por isso. Pena que esta participação esteja estagnada. Segundo pesquisas, o sexo feminino representa menos de 10% do total de políticos nas duas Casas. Do ano passado pra cá, apenas mais três mulheres se elegeram deputadas, aumentando o número de 42 para 45 cadeiras femininas. Um retrocesso imperdoável após tantos anos de luta.
No entanto, não podemos negar que há outros indicadores positivos sobre a situação atual das mulheres. É com maior freqüência que as vemos ocupando cargos de direção e em profissões antes reservadas aos homens. Sem contar o avanço da liberdade sexual. Por isso, acho justa a homenagem a nós. É por todo o esforço de se impor e ter conquistado seu espaço numa sociedade patriarcal que temos um dia em nossa homenagem. Não só para comemorar as conquistas (ainda que poucas, mas importantes), mas também para lembrarmos das dezenas de heroínas que se foram e de tantas outras espalhadas por esses “Brasis” a fora.

segunda-feira, março 05, 2007

A matemática do amor


O casamento do século XXI já vem com uma planilha de Excel embaixo do braço. São tantos os planos, economias e cálculos necessários para que a união de um casal aconteça que muitas vezes ela se torna inviável. O mundo contemporâneo nos encheu de gastos. A era da tecnologia trouxe a conta do celular, da TV a cabo, dos aparelhos eletrônicos, da internet. A era do trabalho e da independência financeira trouxe a falta de tempo para o lar e, com isso, a necessidade de uma m.d.o que substitua a sua ausência. Filhos só com babá ou enfermeira. Mesmo nos fins de semana, afinal é o dia do descanso. Depois que completou um ano, ainda tem que ter o dinheiro da creche. Faxina e comida na geladeira só se tiver empregada. Sem contar a era do lazer. São tantas as opções que não se pode faltar no orçamento uma quantia generosa para a diversão (quem não gosta de um belo jantar no restaurante do momento?).
Nos tempos de nossos avós a vida era bem mais fácil. Por isso, as famílias eram maiores. As mulheres ainda cuidavam da casa, os maridos iam do trabalho pra cama e dificilmente esticavam a noite depois da labuta. Diversão era a família. Ir à praia, ao parque, ao cinema. Ou porque não ficar em casa? Atualmente, são tantos os atrativos fora do lar que ninguém consegue passar o dia lendo no sofá. E quando resolve ir pra rua é com a certeza de que "dinheiro na mão é vendaval". Consumo, consumo, consumo. È a marca da nossa era.
Os filhos foram substituídos pelos artigos acima citados. Não dá pra ter a qualquer hora. É preciso muita estabilidade para colocar uma criança no mundo. Até porque todos querem ter o melhor carrinho, as melhores roupas, a mamadeira importada, a chupeta antialérgica (nem sei se existe, mas vocês estão entendendo onde quero chegar), a melhor fralda (alguém inventou que é a Pampers e todas as mães acreditaram), e sei lá mais o quê. Se não for assim é muita raça!!! Já foi o tempo em que a mãe cuidava de quatro ao mesmo tempo, sem ajuda de ninguém e ainda tinha que lavar fraldas de pano.
Já foi o tempo também que casamento significava incondicionalmente compartilhar. Os relacionamentos de hoje prezam acima de tudo pela liberdade/individualidade. Se tiver um banheiro pra cada um, excelente. Duas TVS, dois dvds, e quem sabe um quartinho extra pra dar uma aliviada de vez em quando. A única coisa que os casais não deixam de dividir são as contas. Questão de sobrevivência.
Há quem aposte no fim do casamento tal qual conhecemos hoje. Cresce o número de adeptos pela união à distância, ou seja, somos casados, mas cada um no seu canto, no seu lar. Eu, particularmente, prefiro à moda antiga. Casamento é casamento. É aprender a dividir, renunciar e construir juntos. Pode até ser que dê certo, porém deixa de ser casamento. De fato, o homem contemporâneo é bem diferente do de outrora. Tenho a impressão de que ele desaprendeu a dividir. Ou simplesmente, em nome desta cobiçada liberdade, tenha optado deliberadamente por ser mais egoísta, mais self e, conseqüentemente, mais só.