Molhando as Palavras

Blog de curiosidades, opinião, crônicas e afins.

quinta-feira, julho 26, 2007

Cronistas

Este ano estreei na Flip. A ocasião era especial: fui selecionada para participar da oficina de crônicas ministrada por Arthur Dapieve e Joaquim Ferreira dos Santos. Foi um belo encontro. A Flip é realmente um acontecimento. Paraty é uma cidade muito charmosa e literatura (para mim) é ainda mais. Portanto os ingredientes estavam ao gosto do bom paladar. Dois mestres, um cenário histórico e assunto para o resto do ano. Não se fala em outra coisa na cidade a não ser em livros, palestras, grandes atores e grandes descobertas. E eu, que de grande ainda não tenho nada, me perdi na imensidão bucólica de suas ruelas, ocupadas por tantos gênios e exemplos de sabedoria.

Curiosamente, as aulas com Arthur e Joaquim foram como um café à beira-mar. Por trás de todo o respaldo de seus nomes haviam ali dois escritores, jornalistas, meros mortais como nós. Veteranos que sofrem como qualquer principiante diante de uma tela em branco no computador. Autores invertebrados que se contorcem diante do tempo para cumprir o dever da escrita. Homens. Simples trabalhadores da escrita, dedicados e experientes na arte de tornar a falta de assunto em assunto da semana. Ali, senti-me cronista, contista, jornalista, mulher, menina. Um semelhante. Com os mesmos sentimentos, diferentes obsessões (porém sempre obsessões) em prol de um mesmo objetivo: escrever.

Éramos 30. Tornamo-nos um só. Uma turma, dois amigos, muitas idéias, talentos para serem explorados. Todos ali tinham algo pra falar e acrescentar. Cada um carregava consigo suas experiências e um desejo tremendo de acreditar que o que escrevemos vale a pena. É bom. Podemos continuar. Devemos continuar. Às vezes é muito difícil acreditarmos em nós mesmos. O escritor precisa do leitor. Apesar de ser uma experiência intrinsecamente pessoal, não escrevemos para guardar segredos. Escrevemos para o mundo. E só acreditamos na obra depois que alguém a leu.

O que mais me intriga na escrita é a oferta de possibilidades. Não existe uma receita de bolo. Existe nexo, coerência. Regras que podem ser quebradas e devem ser se assim quisermos. Cada um tem seu estilo e todos podem ser bons na mesma medida. Arthur e Joaquim não nos ensinaram a escrever crônicas. Ensinaram-nos a ser cronistas. Como aguçar o olhar. A matéria prima do cronista está em todas as partes. À nossa volta. Mas é preciso sensibilidade para enxergar o mínimo dentro do todo. Um toque, um movimento, simples observações transformadas em reflexão e pensamento. Nem sempre a inspiração está a nosso favor. Na maioria das vezes ela foge como uma cobra escorregadia. E diante do pânico de não ter o que falar ficamos órfãos de palavras. Lutando contra o tempo em busca de um único motivo que nos mantenha criando. E que felizmente, querendo ou não, sempre aparece.