Molhando as Palavras

Blog de curiosidades, opinião, crônicas e afins.

quarta-feira, julho 12, 2006

Querem acabar com o pixaim!

Virou febre na cidade. A escova progressiva está mais contagiante que o tal rota vírus (aquele que ninguém sabe o que é, mas todo mundo já pegou). Por isso, se você tiver o cabelo um pouco mais encaracolado, tome cuidado. Pode ter certeza que em qualquer lugar, a qualquer hora, vai ter alguém pronto pra te aconselhar o serviço. Basta andar na rua para perceber. Se começarem a te olhar muito é porque estão pensando “ela ia ficar ótima se fizesse a progressiva”.
A fixação é tanta que outro dia cheguei no cabeleireiro e perguntei: tem hora pra fazer a mão? E o cara imediatamente respondeu com a interrogação: você não quer fazer uma progressiva? Fiquei pasma com a falta de senso do coitado. Mas não hesitei. Respondi em alto, seco e bom tom: não!!! Virei as costas, saí e fui fazer a unha no salão em frente.
Nada contra quem faz, afinal mudar um pouco é sempre bom. O problema é essa neurose conjunta que todas mulheres entraram por causa de uma escova. Quem tem cabelo liso ainda vai. Dá uma ajeitada, hidrata o cabelo, sei lá. Agora eu, que tenho uma juba super encaracolada, não dá.
Chega até ser engraçado. Todo mundo tem uma opinião formada sobre o assunto. Ou já fez ou conhece alguém que tenho feito. Outro dia, contei pra uma amiga que muitas pessoas me aconselharam fazer a tal. Ela me disse na hora “Não faz! Quem disse isso é porque tem inveja de você e quer te ver feia. Minha irmã tem o cabelo igual ao teu, fez e ficou horrível” (dá pra notar o grau da paranóia?).
Na verdade, o que me preocupa não é exatamente a escova, mas o que está por trás dela. E o que vejo é uma padronização absoluta do belo. Uma idéia de beleza que em nada tem a ver com a nossa raça e origem. Primeiro veio a mania de magreza. Todo mundo tem quer ser macérrimo, sem bunda, com a perna fina, daquele jeito que basta dar um peteleco pra pessoa ir longe. Depois veio o peitão siliconado. Agora, todo mundo tem que ter cabelo liso, de preferência, escovado e louro. Daqui a pouco o Rio vai se transformar em uma grande Barra da Tijuca onde todas as mulheres usam salto, fazem luzes e escovam a cabeça antes de ir pro samba na praia (me desculpe quem mora na Barra, mas é verdade!).
Parece-me um problema crônico do brasileiro não valorizar o que tem. E pior, importar os piores costumes. O natal, por exemplo, já pararam pra pensar em culto mais inadequado ao Brasil? O que o Papai Noel, que mora lá na terra do gelo, tem a ver com o nosso país tropical? Em pleno verão as pessoas colocam presentes em volta de pinheiros e fazem nevar na rua a uma temperatura ambiente de 40º C. É ou nãó é forçação demais?
Será que viveremos eternamente numa colônia? Será que nunca deixaremos de ser meros importadores de cultura para nos tornarmos criadores genuinamente nacionais? Essa mania de ficar copiando a estética lá da Escandinávia não dá. O brasileiro tem estilo próprio. É do corpo violão, do rebolado, do cabelo crespo, liso e ondulado. É um povo mestiço que tem justamente na diversidade a sua beleza. Mas não, ficam os cults ditando moda e querendo fazer todo mundo ser igual. Pior, igual às modelos das revistas sem oferecer a ajuda do photoshop.
Claro que vaidade é importante. Todos querem se sentir bem de frente pro espelho. Mas pra isso temos que ser um pouco mais generosos com nós mesmos. Se aceitar mais. Se satisfazer com o possível e não com uma imagem inatingível que alguém classificou como ideal. Belo também é sinônimo de saúde interior. Consumir cultura pode ser bem mais embelezador e muito menos cansativo. O segredo está no equilíbrio. E principalmente, em admirar a diferença. Afinal, será que eu posso gostar do meu cabelo cheio e enrolado?
Pelo visto a maioria acha que não, e se pudesse já teria me tacado debaixo do secador. Tudo bem, eu entendo. Sei que o conselho é pro bem. Mas por enquanto eu vou ficar a margem, torcendo para que essa mistura de formol com queratina queimando no coro cabeludo não cause maiores danos cerebrais às mulheres. Senão é capaz de 90% da população feminina ficar meio limitada pra sempre. Já pensaram? Deus me livre! Se for pra correr esse risco prefiro gastar tempo, dinheiro e neurônios no analista! O custo benefício é bem melhor.
ps: amigas que fazem e amam escova progressiva. Amigas que me aconselham o uso (sei que é por bem!)não fiquem bravas. É que não poderia deixar de comentar sobre esse fenômeno estético social neurótico compulsivo! É muita pressão na cabeleira!!!!

3 Comments:

  • At 5:43 PM, Anonymous Anônimo said…

    eu acho que você não faz escova progressiva por uma questão de princípio e não de estética )e não vejo nada de mal nisso!), até porque a escova progressiva não alisaria seu cabelo em hipótese alguma!
    Beijo da sua irmã que FAZ escova progressiva e continua com o cabelo beeeemmmm ondulado, porém domado!

     
  • At 10:37 AM, Anonymous Anônimo said…

    Aderi....
    risoss

     
  • At 12:51 AM, Blogger Andrea said…

    Olá, naõ sei se vc é jornalista ou faz faculdade de comunicação, enfim, se tem alguma ligação com jornais, revista, etc ou é apena seu dom de escrever. Dei uma lida em alguns textos q vc colocou aqui e adorei suas críticas, vc escreve bem e consegue prender a atenção do público, além de fazer com q se reflita um pouco sobre a realidade. Decidi escrever nesse texto q foi o q eu mais me identifiquei e confesso q sempre penso nessa ditadura da beleza infeliz q está dominando cada vez mais a sociedade. Se eu soubesse quem inventou ser magra, loira, peituda e futil, mandaria matar sem pena!!

    Abraços e sucesso

     

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