Molhando as Palavras

Blog de curiosidades, opinião, crônicas e afins.

quinta-feira, agosto 17, 2006

Lealdade

Dizem que por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher. Concordo. Não necessariamente nesta ordem. O fato é que quando se está bem acompanhado tudo melhora. O amor engrandece o espírito e enobrece a alma. Tomar decisões torna-se muito mais fácil quando temos alguém para compartilhar a dúvida. Ontem, assistindo a um documentário sobre a vida dos Clinton tive ainda mais certeza disso. A história de vida do casal é incrível. Prova que o amor é capaz de vencer muito mais barreiras do que imaginamos.
Hillary e Bill se conheceram jovens. Os dois eram estudantes. A primeira vez que se viram foi dentro de uma biblioteca. Eles se olharam, se gostaram. Depois de algum tempo de flerte Hillary tomou a iniciativa. Deu certo e desde então eles estão juntos.
No início, a vida foi meio Eduardo e Monica. Hillary queria seguir carreira em Washington. Clinton queria viver em Arkansas, onde nasceu, ao sul dos Estados Unidos. Em nome dele, ela abandona o sonho. Eles se casam, mas Hillary continua com seu nome de solteira. Ela torna-se advogada e sócia do principal escritório da cidade em que moram. Ele segue a política e torna-se o governador mais jovem dos Estados Unidos. A partir daí a vida dos dois se transforma. Hillary estava longe de ser uma simples primeira-dama. Era ativa, participativa, tomava decisões. Chegou a ficar encarregada de alguns projetos sociais no governo do marido, o que muitas vezes foi motivo de crítica. As mulheres americanas a achavam muito independente, o que atrapalhava a popularidade de Clinton. Mais uma vez ela abre mão da carreira, passa a adotar o Clinton como sobrenome, e torna-se dona de casa. Clinton fica cinco mandatos no governo de Arkansas.
Tempos depois Clinton inicia sua campanha para presidente dos EUA. A força de Hillary era tanta que enquanto o marido estava em um estado fazendo campanha, ela estava em outro angariando votos. Clinton é acusado de traí-la. Uma ex-namorada aparece em rede nacional se dizendo amante dele há 12 anos. O casal não se separa. Também vai em rede nacional, juntos, e desmentem um ao lado do outro a acusação. Clinton vence as eleições. Em seu governo, Hillary fica encarregada de projetos ligados a saúde. Suas idéias geram desconfortos internos. Mas ela vai em frente mesmo assim.
Ele é reeleito. Tempos depois, Clinton é acusado de traí-la novamente. Desta vez com a estagiária, Monica Lewinsky. Ele, óbvio, nega. Mas ao ver o circo se fechar confessa o ato. Hillary fica decepcionada, mas não se separa. Ao contrário. Continua ao lado do marido e vai pedir aos senadores que o apoiem contra seu impeachment. Ele vence. A lealdade de Hillary, principalmente.
Hoje, quem está na política é ela. Tornou-se senadora com uma esmagadora maioria de votos. Foi a primeira vez na história dos EUA que uma primeira-dama ocupa um cargo público. Os dois agora moram numa casa mobiliada com os mesmos móveis da primeira casa que tiveram. Foram 17 anos na política desde que ele se tornou governador. E agora o casal tem um lar próprio. Em sua autobiografia ela diz: "Em 1973, eu e Clinton começamos uma conversa. Trinta anos se passaram e nós continuamos conversando".
Alguns podem achar que ela foi burra e que Clinton nem é o melhor exemplo de grande homem. Eu acho que sim. Um jovem de uma pequena cidade do interior virar presidente do Estados Unidos é muita coisa. Ele foi o terceiro mais novo presidente dos EUA. Ao deixar o cargo, teve as mais altas taxas de aprovação para um presidente na história moderna dos Estados Unidos (58% de imagem positiva). E ela agora é candidata ao cargo que um dia foi dele. Sem dúvida os dois gostam muito do poder, mas com certeza eles gostam muitos mais um do outro.