Molhando as Palavras

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segunda-feira, junho 05, 2006

Amor Perecível

Sempre que vejo um casal de velhinhos passeando na rua me pergunto se um dia estarei na mesma situação. Fui solteira durante alguns anos e felizmente não me recordo de ter lamentado a solidão ou ficado extremamente preocupada com meu estado civil. Passei, claro, por maus momentos, desventuras, desencontros, mas quem nunca sofreu por amor na vida? Aliás, até mesmo dentro de um relacionamento estamos sujeitos a isso. Mas será que a fidelidade, o amor eterno realmente existe?
Sempre achamos que sim quando nos encontramos no estado tolo da paixão. Planejar quando se está apaixonada é realmente empolgante. O difícil é quando o amor acaba, a crise aparece e tudo vai direto para o ralo. Não há frustração maior que ver um ideal de amor fracassar diante de nossos olhos.
O fato é que enquanto somos jovens, curtimos a vida e temos muitos amigos, a “solterisse” não é um tabu. O desconforto é quando a idade avança, o desejo de constituir família vai ficando pra trás e com isso a morte de todos outros sonhos agregados ao casamento. Muitos o consideram uma instituição falida, mas o número de uniões registradas no país cresce a cada ano. O tempo de duração é que tem diminuído. O sonho da vida a dois parece não ter força para superar pequenas crises. Já na primeira turbulência o desejo da liberdade fala mais alto. Cada um para seu lado, divisão de bens, e a idéia do amor eterno se esvai como numa trepada de motel.
Pesquisas dizem que a maioria das separações é causada por adultério. O segundo motivo é o desgaste do tempo (o que pode variar entre dois e 10 anos). Então, como fazer para que nossas relações não morram na praia e no marasmo do dia a dia? Tenho a impressão que numa geração em que o sexo vale a qualquer hora, em qualquer lugar, o libido passou a ser o tempero principal do casamento. Companheirismo e afinidade passaram para segundo plano. Se não tem cama, pode esquecer. Não há vida a dois que resista ao tédio sexual com tanta variedade lá fora.
Para a mulher, estar solteira é realmente um pouco mais complicado. As razões físicas todos já sabem: o desejo de ser mãe que infelizmente pode não ser realizado por questões de segurança para a vida de ambos. Mas também tem a tal pressão social. Aquela que assombra a maioria das mulheres acima dos 30. Não ter um parceiro, mesmo sendo bem-sucedida, significa que seu talento se restringiu ao profissional. No consciente coletivo a mulher tem que ter um homem ao lado. Se estiver sozinha, mesmo tendo conquistado todas as outras coisas, a premissa será a da infelicidade.
Enquanto isso, os homens abusam da oferta. Sem pressa (aliás, querendo sempre adiar o compromisso), eles tentam aproveitar ao máximo os anos em liberdade. Falar em casamento dá calafrio. É o mesmo que sepultar o amor. Até o dia que eles cansam e depois de muita insistência se lançam para o altar. Nem sempre porque encontraram a mulher ideal, mas porque ela o encontrou no momento certo.
Por isso, adoro ver casais de velhinhos de mãos dadas pela rua. Pois eles me remetem a um tempo em que o amor era mais pleno, mais acolhedor e menos vadio. O tempo era um aliado e não um inimigo. Ao observá-los, fico imaginando os anos que se sucederam, as transformações, as crises superadas, os medos, os desejos involuntários, e tudo o que não foi capaz de vencer o mais importante e que deu início a tudo: a arte do encontro. Vendo-os ali, caminhando, apoiados um ao outro, já sem o vigor da juventude, chego a conclusão de que o homem sim é perecível, mas o amor pode ser eterno... Até que a morte os separe.

1 Comments:

  • At 3:05 PM, Anonymous Anônimo said…

    Que questão difícil essa hein! Acho que no mundo corrido que vivemos, cheio de desvios e opções de escolha, o que realmente importa é estar se sentindo amada/o! O que se passa com o outro nunca saberemos, por mais que a gente ache que conhece bem alguém. Então, que seja eterno enquanto dure, e que sua duração seja estabelecida no amor, amor!

     

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